Viajar muda a gente, sempre. Pra mim viagem é sempre um processo, sempre uma cura, às vezes uma dor inesperada. Catarse, mudança, transformação – todos esses clichés. Se estou com uma dúvida ou um problema aparentemente insolucionável, meu primeiro passo é ir ao cinema. O segundo é assistir a um dos filmes que me dá coragem (geralmente Encontros e Desencontros), e o terceiro passo é viajar. Pra serra, pra Vitória, pra São Paulo – não precisa de muito. É que alguma coisa sobre estar em movimento, dentro de um meio de transporte sobre o qual você exerce pouco ou nenhum controle, num cenário desconhecido ou simplesmente diferente, coloca as minhas ideias no lugar. Ou faz desmoronar tudo. Claro que quanto mais ambiciosa a viagem, maior o potencial de transformação. Então faz sentido que eu tenha voltado dessa epopeia Las Vegas – Los Angeles – Laguna Beach meio zonza e cheia de questões. Tantas que eu precisei de três minigarrafas de vinho e uma madrugada inteira no avião pra organizar os assuntos. Essa viagem vem ao blog então em três partes: a primeira sobre amor, a segunda sobre amizade e empatia e a terceira sobre trabalho, referências e curiosidade artística. Bear with me, ok?
Qualquer um que já tenha passado 15 minutos comigo numa mesa de bar ou que já tenha me lido minimamente sabe que eu tenho um sem número de questões com essa coisa de monogamia e casamento. Mas sabe também que eu sou uma das dez pessoas mais românticas do mundo, e que eu acredito no amor acima de todas as coisas (menos do vinho). Sei que eu não tô sozinha nesse barco, e sei que muitos dos meus amigos me entendem e até compartilham dessa opinião. Mas é que é tão difícil de explicar às vezes.
Por exemplo: eu choro em casamentos. Todos os casamentos. Reais e ficcionais. Quase dei tilt no series finale de Mad Men porque o desfecho romântico da Peggy me emocionou mais do que as conquistas profissionais das personagens femininas que eu tanto admirava, lembram? O amor me emociona, até quando eu não acredito no modelo proposto.
E daí que uma grande amiga ia casar – e ia casar longe – e pra mim não houve nem um segundo de hesitação. Despedida de solteira em Vegas? Sim. Casamento tradicionalzão? Sim também. E eis que num desses fins de noite mágicos em que todo mundo encheu a cara e está numa harmonia quase inexplicável, se empanturrando de batata frita às 6h da manhã e conversando sobre tudo e nada ao mesmo tempo, eu me pego dizendo pra noiva e pras madrinhas que morar junto é uma cagada completa e irrestrita.
Claro que eu penso assim porque pra mim deu merda. Claro que elas sabem. Claro que eu poderia elaborar e provar por A + B + C que geralmente dá merda sim, porque nós estamos presos a modelos de família que não condizem mais com as nossas vontades e aspirações. E eu ia fazer isso tudo, só que aí a noiva, sendo a pessoa incrível que é, resolveu tirar o foco da minha confusão e contar pra gente como ela teve certeza, em que momento ela percebeu que era pra valer, que ela tinha achado o cara.
É uma história linda e universal. Eles se conheceram por causa do trabalho, ele chamou ela pra um date disfarçado de almoço, ela aceitou já percebendo as intenções dele, mas pensando apenas em fazer um amigo (ela era nova na cidade). Na tentativa de jogar ele na friendzone, já que ele não era o tipo dela, minha amiga falou sem parar durante toda a refeição. Só que ele ouviu. E prestou atenção. E fez comentários extremamente pertinentes. E ela foi se abrindo meio que sem perceber. Até que lá pelas tantas o rapaz, esperto, disse que ela estava precisando de um carinho, e passou o braço em volta dela. Bastou. Basta. Quem já passou por isso sabe. Soltei a bata frita e comecei a chorar – e olha que Vegas não combina com choro.
É que eu vivi essa história, com ajustes mínimos de enredo. Eu já tive essa certeza, e ela também foi imediata - de zero a cem em um toque. Só que a minha história desandou depois. E aí como você faz pra acreditar que a dos outros vai dar certo? Porque eu acredito, isso é fato. Só não sei explicar bem por que. Me ocorre agora que talvez eu me emocione com a coragem, e que talvez seja ela precisamente que tenha faltado no meu caso. Porque casar é um passo no escuro, por mais que você esteja morando com a pessoa há anos e saiba de cor quantas sardas ela tem na bochecha direita. A gente tem tão pouco controle sobre as coisas...
Uma semana depois da minha crise de choro em pleno cassino, o padre que celebrava a cerimônia recontou a história do abraço, e eu desaguei de novo. Desaguei e desejei pra mim a coragem daqueles dois que estavam ali de mãos dadas e sorrisos apatetados na minha frente. Não porque eu tenha mudado de opinião sobre o casamento – ainda acho que não é pra mim, pelo menos não nesse formato. Mas porque medo e amor realmente não combinam, e eu sou 100% a favor de grandes gestos e demonstrações de afeto.